Se está a tentar ter filhos, ou se quer ter filhos, um dia, mas não tem possibilidade de o fazer no imediato, já lhe devem ter dito que deve começar antes dos 35, já que, mais tarde, terá sérias dificuldades.

Quão difícil é, exatamente, engravidar depois dos 35?

Se está a tentar ter filhos, ou se quer ter filhos, um dia, mas não tem possibilidade de o fazer no imediato, já lhe devem ter dito que deve começar antes dos 35, já que, mais tarde, terá sérias dificuldades.

Estas afirmações provocam stresse e a ansiedade, mas será que têm algum fundo de razão? Quão difícil é, exatamente, engravidar depois dos 35? Vale a pena ter esperança?

Como em muitos casos, a resposta é mais complicada do que nos é dado a entender.

O “35” não é nenhum número mágico

É impossível traçar uma linha temporal e afirmar que, depois dessa data em concreto, a sua fertilidade irá cair a pique. Na realidade, o que acontece é que que a fertilidade começa a diminuir gradualmente à medida que se aproxima dos 30 anos. A velocidade de declínio aumenta ao chegar aos 32, voltando depois a aumentar perto dos 37 anos.

Aos 40, a fertilidade já diminuiu significativamente. Ainda é possível engravidar, mas pode demorar muito mais do que esperava.

Em seguida, apresentam-se alguns números que explicam melhor a situação. Num grande estudo estudaram-se as taxas de gravidez de mulheres que tiveram relações sexuais no seu dia mais fértil. Verificou-se que:

  • As mulheres entre os 19 e os 26 anos tinham uma probabilidade superior a 50% de engravidar
  • As mulheres entre os 27 e os 34 anos apresentavam uma taxa ligeiramente inferior a 40%
  • As mulheres entre os 35 e os 39 anos tinham uma probabilidade inferior a 30% de engravidar, quase metade da taxa apresentada pelas mulheres com idade entre os 19 e os 26.

Por outras palavras, tem 25% de hipóteses de engravidar, em cada mês, antes dos 30 anos, mas este número diminui para 5% ao chegar aos 40.

Isto não quer dizer que seja impossível, apenas que é menos provável.

Outra forma de calcular a fertilidade consiste em verificar quanto tempo é preciso até uma mulher engravidar e ter um filho. Através deste método,  calculou-se que:

  • 75% das mulheres de 30 anos estão grávidas ao fim de 1 ano; 91% engravidam no espaço de 4 anos.
  • 66% das mulheres de 35 anos estão grávidas ao fim de 1 ano; 84% engravidam no espaço de 4 anos.
  • Apenas 44% das mulheres de 40 anos estão grávidas ao fim de 1 ano; somente 64% engravidam no espaço de 4 anos.

Dados estes números, a Sociedade Americana de Medicina Reprodutiva (ASRM, American Society of Reproductive Medicine) recomenda que inicie uma avaliação de infertilidade se não tiver engravidado ao fim de 12 meses de sexo não protegido, se tiver menos de 35 anos, ou ao fim de 6 meses, se tiver mais de 35 anos.

Não é só a questão da fertilidade

Quando se fala sobre a dificuldade de engravidar após os 35 anos, é importante recordar que não nos referimos apenas às taxas de gravidez.

A idade aumenta a probabilidade de ocorrência de aborto espontâneo ou morte fetal.

O risco de o bebé ter malformações congénitas graves, que a podem levar a considerar a interrupção da gravidez, também aumenta após os 35 anos. De acordo com um estudo, 10% das gravidezes em mulheres com 20 e poucos anos resultam num aborto espontâneo, mas esse valor aumenta para 18% em mulheres com mais de 35 anos e para 34% em mulheres com mais de 40.

Isto significa que terá um risco de 40% de perder o bebé aos 40 anos, risco esse que é de apenas 15% quando está na casa dos 20. Esta questão deve-se principalmente ao facto de que a qualidade e a quantidade dos seus ovócitos diminuem com a idade. A redução na qualidade dos ovócitos conduz a um aumento do risco de um ovócito fecundado não se dividir corretamente, originando anomalias cromossómicas.

Woman thinking fertility after 35

Mulher a considerar a questão da fertilidade após os 35 anos

 

Porque é que se torna tão difícil engravidar depois dos 35?

O motivo principal para o declínio na fertilidade que ocorre perto desta idade consiste no facto de que já lhe restam poucos ovócitos. As mulheres têm cerca de 1 milhão de ovócitos à nascença, contudo, ao atingirem a puberdade, já só restam cerca de 300 a 400 mil. Este número diminui gradualmente e, aos 35, sobram apenas algumas dezenas de ovócitos aptos para serem fecundados. Nesta idade, pode começar a ter ciclos menstruais em que não há libertação de um ovócito.

Com a idade, aumenta a probabilidade de ter tido algum tipo de cirurgia ou infeção que possa ter afetado a sua fertilidade, deixando cicatrizes no colo do útero e nas trompas de Falópio. Também existe uma probabilidade superior de ter desenvolvido problemas como endometriose ou miomas uterinos, que provocam grandes dificuldades em engravidar.

À medida que envelhece, também se dá um declínio natural no muco cervical, o qual tem um papel fundamental na fecundação, ajudando os espermatozoides a atingir o útero e as trompas de Falópio, onde se encontra o ovócito.

Cada ano que acresce aos 35 pode afetar as suas hipóteses de ter uma gravidez bem-sucedida, pelo que é importante procurar assistência médica assim que se aperceba de que está a ter dificuldade em engravidar. Quer tente ter filhos através de FIV, doação de ovócitos/espermatozoides ou por gravidez natural, desejamos que a sua experiência seja o mais agradável possível.

A idade do parceiro também importa

Não é só a idade da mulher que afeta a sua probabilidade de engravidar naturalmente. A idade do parceiro também desempenha um papel.

A fertilidade masculina não diminui tão rapidamente como a feminina; perto dos 40, contudo, já apresenta um declínio significativo. Num estudo verificou-se que as mulheres entre os 35 e os 39 anos que tinham um parceiro no mesmo intervalo de idades apresentavam uma taxa de gravidez de 29%, mas o facto de o parceiro ser cinco ou mais anos mais velho reduziu a taxa de gravidez para apenas 18%.

Existem múltiplos fatores que contribuem para a fertilidade

Muita gente dirá que deve tentar engravidar antes da idade “mágica”. Como vimos, não existe uma idade preestabelecida que determine a diminuição da sua fertilidade (ou a fertilidade do seu parceiro). Dito isto, as suas hipóteses de engravidar e ter um bebé saudável diminuem com a sua idade e com a idade do seu parceiro, à medida que passa a ter menos ovócitos viáveis disponíveis, aumentando a probabilidade de aborto espontâneo e morte fetal. O ideal é procurar engravidar mais cedo, mas não existe nenhuma receita (ou idade) mágica que possa garantir o sucesso.