Já deve ter ouvido a expressão “O relógio não pára” tantas vezes que já enjoa. No entanto, as mulheres que queiram ter filhos não podem simplesmente ignorar a sensação de urgência.

O que acontece aos seus ovócitos à medida que envelhece?

Já deve ter ouvido a expressão “O relógio não pára” tantas vezes que já enjoa. No entanto, as mulheres que queiram ter filhos não podem simplesmente ignorar a sensação de urgência. A necessidade de conjugar a progressão na carreira com a procura do parceiro ideal e de resolver outros problemas da vida antes de terem filhos significa que o “relógio” não é apenas uma metáfora irritante, mas sim uma preocupação legítima. Apesar de a fertilidade não desaparecer simplesmente de um dia para o outro, também não dura para sempre, sendo que o processo de declínio da fertilidade se inicia na casa dos 30 anos. Vamos ver porquê, e saber o que pode (ou não pode) fazer quanto a esta questão.

Quantidade de ovócitos

A quantidade de ovócitos férteis não se mantém constante ao longo da vida. Enquanto uma adolescente tem cerca de 400 mil ovócitos, este número começa rapidamente a diminuir. O Dr. Sherman Silber, autor de um guia sobre como levar a melhor sobre o seu relógio biológico (Beating Your Biological Clock, no seu título original), explica que, após o início da menstruação, uma adolescente perde mil ovócitos imaturos todos os meses, sendo que esta perda é simplesmente um processo biológico e não algo que possa ser alterado por fatores que possamos controlar. Em média, as mulheres têm cerca de 25 mil ovócitos aos 37 anos e apenas mil aos 51. Poder-se-ia pensar, “bem… para engravidar, basta UM ovócito saudável.” Esses números parecem ser ainda bastante altos. Mas uma gravidez bem-sucedida não é apenas uma questão de números.

Qualidade dos ovócitos

Nem todos os ovócitos são criados iguais. Para um ovócito estar pronto a ser fecundado, tem de passar por várias divisões celulares. Durante o processo complexo e fascinante de divisão celular, os cromossomas devem replicar e separar de forma perfeita quando a célula se divide em duas. À medida que os ovócitos envelhecem, vão tendo cada vez mais dificuldades no processo de divisão. Um dos problemas pode ocorrer nos próprios cromossomas. Podem separar-se demasiado cedo no processo de divisão celular, o que confere ao óvócito resultante um número anormal de cromossomas; a isto dá-se o nome de aneuploidia. Outro problema pode ocorrer com as partes da célula que envolvem os cromossomas, permitindo o seu alinhamento correto durante a divisão celular. Em ovócitos envelhecidos, é frequente estas partes (designadas microtúbulos) terem menor controlo sobre o processo, acabando (novamente) por conferir ao ovócito resultante um número anormal de cromossomas.

O que acontece a um ovócito que tenha um número anormal de cromossomas? Pode dar-se o caso de:

  • não ter capacidade de ser fecundado
  • não permitir o crescimento e desenvolvimento saudável do feto (resultando num aborto espontâneo precoce)
  • originar um bebé com síndrome de Down (a qual é provocada por um problema muito específico na divisão cromossómica)

Resumindo: apesar de muitas mulheres mais velhas poderem ter filhos saudáveis naturalmente, quanto mais velhos forem os ovócitos, maior a probabilidade de se darem anomalias no desenvolvimento e menor a probabilidade de originarem um bebé saudável.

Soluções presentes e futuras

O Professor Greg Fitzharris sugere que, futuramente, talvez venha a ser possível colher os cromossomas de um ovócito de uma mulher mais velha e introduzi-los no ovócito de uma mulher mais jovem. Desta forma, o material genético continuaria a ser inteiramente seu (ao contrário do que acontece na “doação de ovócitos”), mas os microtúbulos mais jovens do ovócito doado aumentariam o sucesso da divisão cromossómica. Por mais entusiasmante que pareça, esta hipótese ainda está longe de ser uma realidade. Mas as mulheres que estejam a pensar antecipadamente sobre a sua fertilidade podem preservar eficazmente a juventude dos seus ovócitos, já hoje. As mulheres que congelam alguns dos seus ovócitos aos 30 e poucos anos, por exemplo, poderão utilizá-los aos 40, quando decidirem que está na altura certa para serem mães. Este processo de congelação designa-se criopreservação de ovócitos maduros, e é feito em clínicas de fertilidade em todo o mundo. A congelação de ovócitos permite parar o relógio, retendo a qualidade dos cromossomas e do material celular envolvente. É uma das melhores soluções atualmente disponíveis para preservação da fertilidade. Não existem garantias, mas o facto de conhecer as opções disponíveis e planear o futuro com antecedência são as melhores medidas a adotar para tornar os sonhos de maternidade numa realidade.