É do conhecimento geral que ter peso a mais pode afetar a saúde em muitos aspetos, mas os estudos indicam que o excesso de peso pode também ter um impacto significativo na fertilidade.
O ganho de peso conduz à perda de fertilidade?
É do conhecimento geral que ter peso a mais pode afetar a saúde em muitos aspetos, mas os estudos indicam que o excesso de peso pode também ter um impacto significativo na fertilidade. Existem pelo menos 3 formas através das quais o peso pode afetar a probabilidade de engravidar:
- Interferindo com o ciclo menstrual
- Alterando a qualidade dos óvulos
- Aumentado o risco de ter um aborto espontâneo
Que peso é considerado excessivo?
No que diz respeito à fertilidade, o peso é medido de acordo com o IMC, o índice de massa corporal. De uma forma geral:
- Um IMC inferior a 18,5 é indicativo de baixo peso
- Um IMC entre 18,5 e 24,9 é saudável
- Um IMC entre 25 e 29,9 é indicativo de excesso de peso
- Um IMC superior a 30 é considerado obesidade
Dito isto, o peso considerado saudável varia conforme a pessoa. É possível que uma mulher com um IMC saudável tenha problemas de fertilidade relacionados com o peso e que uma mulher com excesso de peso consiga engravidar e dar à luz ser qualquer problema.
O excesso de peso pode interferir com o ciclo menstrual
O principal fator através do qual o excesso de peso afeta a fertilidade consiste na possibilidade de interferência com o seu ciclo menstrual.
O seu ciclo menstrual é regulado por um equilíbrio delicado nas hormonas produzidas pela hipófise e pelo hipotálamo, as glândulas que estimulam os ovários. A hormona mais importante é a hormona libertadora de gonadotrofinas, ou GnRH. Esta estimula a produção da hormona folículo-estimulante (FSH), a qual inicia o desenvolvimento de ovócitos nos ovários e aumenta os níveis de estrogénio; e da hormona luteinizante (LH), que desempenha um papel na maturação dos ovócitos e na sua libertação atempada.
Normalmente, o hipotálamo liberta GnRH a cada uma a duas horas, a um ritmo constante, mas em casos de excesso de peso, o acréscimo de tecido adiposo produz a sua própria hormona, designada leptina, a qual interrompe a produção de GnRH e perturba todo o ciclo menstrual. Quanto maior a quantidade de gordura em excesso, especialmente na zona do abdómen, maior a quantidade de leptina produzida pelo corpo.
A obesidade provoca ainda uma redução na produção da globulina de ligação das hormonas sexuais (SHBG) e da hormona de crescimento (GH), as quais também estão envolvidas na estimulação dos seus ovários, para que estes produzam níveis adequados de androgénio e estrogénio. Um estudo indica, que as mulheres obesas têm muito menor probabilidade de engravidar naturalmente no período de um ano do que as mulheres que se encontram num intervalo de peso normal.
A obesidade pode até conduzir a uma situação de anovulação, em que os seus ovários simplesmente param de produzir ovócitos por completo, devido à perturbação do equilíbrio hormonal. As mulheres com IMC superior a 27 têm uma probabilidade três vezes superior de ter parado de ovular do que as mulheres com um IMC normal.
Alteração da qualidade dos ovócitos
A ciência ainda se encontra a investigar a existência de uma ligação entre a obesidade e um declínio na qualidade dos ovócitos, mas é provável que, mesmo que se encontre a ovular, a obesidade reduza a qualidade dos ovócitos. Uma vez que o ovócito se divide continuamente, é mais provável que ocorram anomalias na divisão, originando ovócitos com um número errado de cromossomas, e/ou que os ovócitos não possam ser fecundados corretamente.
Num outro estudo, verificou-se que por cada ponto adicional no IMC acima dos 29, a probabilidade de engravidar no espaço de 1 ano diminui em cerca de 5%.
Aborto espontâneo e nascimento
Os investigadores descobriram ainda que, após engravidar, a obesidade pode afetar a probabilidade de a mulher concluir a gravidez e dar à luz um bebé saudável. Segundo o sistema nacional de saúde britânico (NHS), as mulheres obesas apresentam taxas de aborto espontâneo mais elevadas, maior risco de desenvolver diabetes gestacional, pressão arterial elevada e pré-eclâmpsia, estando mais sujeitas a sofrer complicações no momento do parto. Quanto maior o IMC, maior o risco.
Num estudo, concluiu-se que até uns “quilinhos” a mais podem ter um efeito surpreendente na ocorrência de aborto espontâneo durante a FIV. Trinta e oito por cento das mulheres com um IMC igual ou superior a 25 tiveram um aborto espontâneo no primeiro trimestre, em comparação com 20% das mulheres com um IMC saudável.
Obesidade e infertilidade masculina
Um outro aspeto a ter em conta consiste no facto de que o ganho de peso também pode provocar infertilidade nos homens. Alguns estudos indicam que os homens com excesso de peso, com um IMC superior a 25, apresentam uma redução de 22% na contagem de espermatozoides e de 24% na concentração de espermatozoides. Além disso, os níveis de testosterona diminuem com o aumento do IMC, o que reduz o desejo sexual (libido).
O peso não é o único fator que afeta a fertilidade, sendo que a presença de miomas pode reduzir a capacidade de engravidar. No entanto, se tiver dificuldades em engravidar e tiver excluído outros fatores que possam estar a impedir uma gravidez, poderá considerar a necessidade de perder peso.
Desejamos que o caminho que a conduz à gravidez e à maternidade seja agradável e que a viagem decorra sem percalços.