Estará o seu emprego a afetar a sua fertilidade?

É provável que já tenha ouvido falar dos riscos de adiar a maternidade até atingir estabilidade na carreira, uma vez que ter filhos mais tarde poderá reduzir as suas hipóteses de vir a ter uma gravidez e um parto bem-sucedidos.

É provável que já tenha ouvido falar dos riscos de adiar a maternidade até atingir estabilidade na carreira, uma vez que ter filhos mais tarde poderá reduzir as suas hipóteses de vir a ter uma gravidez e um parto bem-sucedidos. Mas talvez não saiba que o seu emprego ou as próprias condições do seu local de trabalho podem também afetar as suas possibilidades de engravidar e ter filhos saudáveis.

Existem pelo menos seis formas através das quais o seu emprego pode afetar a sua fertilidade:

  • A exposição a produtos químicos pode reduzir a fertilidade
  • A exposição à radiação pode provocar lesões no sistema reprodutor e nos ovócitos
  • O impacto do trabalho por turnos ou de diferenças horárias (jet lag) no equilíbrio hormonal pode afetar a fertilidade
  • Os efeitos do stresse nas hormonas reprodutivas podem reduzir a probabilidade de engravidar
  • Passar muito tempo a levantar objetos pesados, com as costas dobradas ou em pé, exigindo ao seu corpo um esforço físico, pode pô-la em risco de ter problemas de fertilidade
  • A fertilidade masculina também pode ser afetada pelo ambiente de trabalho. Há que ter em conta que são precisos dois para dançar o tango!

Locais de trabalho que a expõem a produtos químicos prejudiciais

É difícil dizer o número exato de produtos químicos aos quais as mulheres estão expostas no dia a dia, uma vez que eles se encontram por todo o lado: na maquilhagem, nos produtos de saúde, na água e nos alimentos. Num estudo verificou-se que cada mulher grávida nos EUA está exposta a pelo menos 43 produtos químicos diferentes durante a gravidez.

Mas o local de trabalho pode ser particularmente perigoso. Demonstrou-se que existem mais de mil produtos químicos frequentes no local de trabalho que afetam a reprodução em animais, mas há outros milhões que nunca foram sequer estudados. Na Agência Europeia de Produtos Químicos (ECHA, European Chemicals Agency) foram registadas mais de 21 mil substâncias desde 2008, tratando-se apenas de substâncias produzidas em quantidades superiores a uma tonelada. É impossível saber quais delas poderão afetar a fertilidade.

Ainda assim, existem alguns produtos químicos que já se sabe que podem dificultar uma gravidez, aos quais é muito fácil estar exposto. Alguns dos principais produtos químicos nocivos que afetam a fertilidade são:

  • Chumbo e compostos de chumbo utilizados em tintas, tubagens e cerâmica
  • Pesticidas utilizados na agricultura, silvicultura ou em veterinária
  • ureto de carbono (CS2) utilizado em fábricas que produzem borracha e celofane
  • Bifenilos policlorados (PCB) utilizados em equipamentos elétricos, lubrificantes, fluidos de arrefecimento e outros fins industriais
  • Resina epóxi e resinas utilizadas no fabrico de plástico, em salões de estética e em medicina dentária
  • Solventes orgânicos como os utilizados em diluentes, removedores de verniz, perfumes e em desinfetantes industriais utilizados em estabelecimentos de saúde e salões de estética
  • Gases de escape de motores a diesel e de motores a jato

Como podemos ver, isto inclui um grande número de locais de trabalho e tipos de empregos, incluindo trabalho em salões de estética, fábricas, estabelecimentos de saúde, agricultura, arte e oficinas.

Estes produtos químicos podem alterar o equilíbrio entre a hipófise (uma glândula no cérebro que controla as hormonas) e os ovários.

O estrogénio e a progesterona são hormonas que regulam o seu ciclo menstrual e permitem ao útero preparar-se para acolher o ovócito fecundado. Se a hipófise não produzir as hormonas na altura e na quantidade certa, podem ocorrer alterações no momento da ovulação, danos na produção de ovócitos e uma redução na qualidade dos ovócitos. É mais provável que tenha dificuldades em engravidar caso os seus ovócitos estejam danificados. Além disso, quando a qualidade dos ovócitos é mais baixa, o risco de não se dividirem corretamente é superior, o que aumenta a probabilidade de ocorrência de anomalias cromossómicas.

 

Trabalho na área da saúde

Os fármacos de quimioterapia, os exames de raio-X e procedimentos de fluoroscopia produzem radiação ionizante, à qual geralmente chamamos apenas radiação. Esta afeta a fertilidade das pessoas que tenham de ser submetidas aos tratamentos, mas podem também afetar as equipas médicas que realizam os procedimentos ou que cuidam das pessoas após o tratamento.

A radiação direta pode provocar lesões nos ovários, ao passo que a radiação de fuga pode danificar o ADN das células. As práticas de segurança atualmente aplicáveis aos locais de trabalho geralmente garantem que a radiação de fuga se encontra bastante abaixo dos níveis nocivos, mas é importante seguir as regras e garantir que os empregadores obedecem às mesmas. Mesmo uma pequena dose de radiação pode induzir a menopausa precoce.

Demasiado stresse no trabalho

Qualquer profissão que provoque muito stresse pode ter impacto na fertilidade.

Referimo-nos a cargos executivos importantes, trabalhos com prazos muito curtos e exposição a chefes tóxicos ou a um ambiente de trabalho stressante.

Isto deve-se ao facto de o stresse produzir uma resposta hormonal (resposta de “luta-ou-fuga”) que afeta o equilíbrio hormonal do organismo, o que pode afetar a produção de hormonas reprodutivas.

Trabalho por turnos e diferença horária (“jet lag”)

Viajar com regularidade ou trabalhar durante a noite, de manhã cedo ou até tarde pode perturbar o seu relógio biológico, provocando “jet lag”. Quando o relógio biológico não funciona corretamente, a produção hormonal pode sofrer alterações, perturbando o ciclo menstrual e a janela de ovulação.

Isto aplica-se a:

  • Mulheres de negócios que viajam regularmente ou que trabalham no estrangeiro
  • Pessoas que trabalham por turnos em profissões da área da saúde, forças de segurança, comida rápida, hotelaria e fábricas.

Apenas cerca de 24% dos europeus têm um emprego em que trabalham 8 horas por dia, cinco dias por semana, em horário diurno. 17% trabalham por turnos e 14% trabalham 10 ou mais horas regularmente.

Empregos fisicamente exigentes

No seu emprego, muitas mulheres têm tarefas que exigem dobrar as costas ou levantar objetos pesados; demonstrou-se que estas atividades podem afetar a qualidade dos ovócitos e a sua produção. O CDC define estas atividades como “excessivas” quando uma pessoa dobra as costas mais de 20 vezes por dia ou levanta objetos pesados mais de uma vez a cada cinco minutos.

Num estudo publicado na revista Journal of Occupational & Environmental Medicine, verificou-se que as mulheres que têm empregos fisicamente exigentes apresentavam uma reserva ovárica 9% mais baixa e menos 14,5% de ovócitos maduros do que as mulheres cujos empregos não obrigavam a levantar pesos.

As mulheres que trabalham em restaurantes ou bares, como prestadoras de cuidados infantis, em fábricas ou armazéns de distribuição, no comércio a retalho e várias outras indústrias podem estar sujeitas a “demasiada” atividade física, de acordo com o estudo anterior.

A fertilidade masculina também é uma questão relevante

O ambiente de trabalho pode afetar também a fertilidade masculina, pelo que deve ser um fator a ter em conta se tiver dificuldades em engravidar.

O calor é um fator de risco significativo de infertilidade masculina.

A temperatura ideal para a produção de espermatozoides é de alguns graus a menos do que a temperatura corporal, mas muitos homens trabalham em ambientes quentes que aumentam a temperatura nos testículos. Nestas situações, a forma dos espermatozoides sofre alterações e estes não conseguem nadar suficientemente bem para alcançar e fecundar o ovócito.

O calor pode ser um problema para:

  • Operários fabris
  • Soldadores
  • Polícias, bombeiros e outras profissões que requeiram a utilização de uniformes apertados e pesados
  • Trabalhadores em escritórios que utilizem o computador portátil no colo

A exposição a produtos químicos como pesticidas, DDEs, gases de escape de motores a diesel, chumbo e diluentes pode influenciar:

  • A qualidade do esperma
  • A produção de espermatozoides
  • A libido e a função eréctil
  • A produção de sémen, necessário para os espermatozoides alcançarem o ovócito

Nem todos os riscos são iguais

Antes de entrar em pânico, tenha em mente que nem todos os produtos químicos irão afetar a sua saúde reprodutiva.

Dos aspetos que fazem a diferença, salientam-se:

  • A duração da exposição ao fator de risco: inala vapores de gasolina uma vez por mês ou todos os dias?
  • A via de exposição: inala vapores, sente partículas na pele ou o produto fica nas mãos, passando depois para a boca?
  • O momento da exposição: alguns produtos químicos podem afetar a ovulação apenas quando a exposição se dá em determinadas alturas do ciclo, ou aumentar o risco de aborto espontâneo somente no primeiro trimestre da gravidez.
  • A sua idade e saúde geral. Algumas mulheres são mais afetadas por produtos químicos, stresse, etc. do que outras.

Procure um ambiente de trabalho saudável

Ainda não se conhecem todas as formas através das quais o seu emprego poderá afetar a sua fertilidade, pelo que é importante fazer todos os possíveis por criar um ambiente de trabalho saudável.

Isto aplica-se a:

  • Garantir que o seu escritório ou local de trabalho tem ventilação adequada
  • Utilizar equipamento de proteção individual (EPI) apropriado quando necessário
  • Evitar situações de stresse
  • Reduzir as viagens de negócios e o trabalho por turnos
  • Minimizar a frequência com que dobra as costas ou levanta objetos pesados

Independentemente das opções que venha tomar quanto à sua futura família, desejamos que a sua experiência seja o mais agradável possível.

Menopausa precoce e planeamento da fertilidade

Se está a tentar ter filhos, é provável que pondere o momento certo para engravidar tendo por base uma vaga ideia da altura em que chegará a menopausa. A menopausa assinala o “fim da linha” para mulheres que querem engravidar.

Se está a tentar ter filhos, é provável que pondere o momento certo para engravidar, tendo por base uma vaga ideia da altura em que chegará a menopausa. A menopausa assinala o “fim da linha” para mulheres que querem engravidar. Na maioria das mulheres, a menopausa ocorre entre os 45 e os 55 anos (em média, aos 51); contudo, em algumas mulheres, esta pode surgir muito mais cedo do que o esperado, o que pode constituir um obstáculo às suas preferências no que diz respeito ao planeamento familiar.

O que é a menopausa precoce?

Os médicos fazem uma distinção entre a menopausa precoce, que ocorre entre os 40 e os 45 anos, e a menopausa prematura, também conhecida por falência ovárica prematura ou insuficiência ovárica primária, a qual se dá antes dos quarenta anos.

Os estudos realizados indicam que cerca de 5% das mulheres têm menopausa precoce, sendo que a menopausa prematura ocorre em mais 1% das mulheres..

Qual é a causa da menopausa precoce?

Para muitas mulheres, a menopausa precoce ou prematura é idiopática, ou seja, não tem uma causa médica conhecida. Dito isto, existem vários fatores que podem conduzir à menopausa precoce ou à insuficiência ovárica primária:

Os tratamentos de quimioterapia ou radioterapia conduzem frequentemente à menopausa, uma vez que o tratamento pode provocar lesões nos ovários e impedi-los de ovular. Nestas situações, é possível que o seu organismo recupere e comece novamente a ovular, apesar de ainda poder vir a ter dificuldades em engravidar devido a outros efeitos do tratamento nos seus órgãos reprodutores.

Doenças genéticas e cromossómicas, como a síndrome de Turner, podem afetar os ovários logo após o nascimento, conduzindo à menopausa precoce ou prematura.

Doenças autoimunes como diabetes, artrite reumatoide e doenças da tiroide, são sinais de uma disfunção no sistema imunitário, que ataca o organismo em vez da doença. Nestes casos, o sistema imunitário pode também atacar os ovários e impedir que funcionem corretamente.

Algumas infeções, como a papeira, a malária e a tuberculose, podem danificar os ovários, mas esta situação é muito rara. Sem o devido controlo com medicação, o VIH e a SIDA podem também conduzir à menopausa.

A cirurgia para remoção dos ovários provoca forçosamente a menopausa.

O tabaco pode acelerar a degeneração dos folículos (ovócitos prematuros). As mulheres nascem com uma média de um milhão de folículos, e este número vai diminuindo lentamente ao longo do tempo. Os folículos não são gastos apenas na ovulação e na menstruação; sofrem também um processo denominado atresia, em que simplesmente degeneram e morrem. O tabagismo acelera este processo.

Num estudo conduzido na Dinamarca, verificou-se que existirá uma ligação entre a idade a que a sua mãe entrou na menopausa e a sua reserva ovárica, isto é, o número de ovócitos que ainda tem no seu organismo. Se tiver antecedentes familiares de menopausa precoce, é provável que tenha uma reserva ovárica inferior à média, que tenha dificuldades em engravidar numa idade inferior à média, e que a menopausa se inicie mais cedo do que a média.

O que é a perimenopausa?

É raro a menopausa ocorrer totalmente de um dia para o outro (de facto, tal só aconteceria se os seus ovários fossem retirados cirurgicamente). As mulheres passam por uma fase designada perimenopausa, que se refere a um período em que ainda ovulam, mas com uma frequência muito mais baixa. Nesta fase, os ciclos menstruais tornam-se irregulares e mais espaçados.

A perimenopausa pode durar até seis anos ou mais, durante os quais ainda é possível engravidar, mas é muito mais difícil. Num estudo, verificou-se que entre 2,2% a 14,2% das mulheres envolvidas engravidaram naturalmente e deram à luz um bebé saudável.

Se começar a ter períodos visivelmente mais longos ou mais curtos do que é habitual, ou se o período parar totalmente durante três ciclos, poderá estar a entrar na perimenopausa. Poderá também ter alguns dos sintomas da menopausa, como afrontamentos, secura vaginal, insónia, dor de cabeça, ansiedade e dores nas articulações.

De que forma é que a menopausa precoce afeta o seu planeamento da fertilidade?

Após a menopausa, não poderá voltar a engravidar naturalmente, mas ainda poderá ter filhos através de FIV com doação de ovócitos ou com os seus próprios ovócitos congelados numa altura anterior da sua vida.

Poderá já ter ouvido falar sobre a terapêutica hormonal de substituição, ou THS, que é frequentemente recomendada em mulheres que apresentam menopausa precoce. No entanto, a THS é indicada apenas em vários outros problemas de saúde associados à menopausa, como osteoporose e risco aumentado de cancro, além de ser prescrita para controlar os sintomas da menopausa. Não permite melhorar a fertilidade.

Se:

  • Tiver antecedentes familiares de menopausa precoce;
  • Tiver uma doença autoimune, infeção ou doença genética que possa conduzir à menopausa precoce;
  • Tiver sido aconselhada a iniciar um tratamento ou a fazer uma cirurgia que possa ter efeitos na sua fertilidade;

é aconselhável considerar a hipótese de congelar os seus ovócitos o mais rapidamente possível.

A congelação de ovócitos na casa dos 20 ou dos 30 anos permite que a qualidade dos ovócitos seja superior, aumentando as suas hipóteses de sucesso quando, mais tarde, os utilizar para engravidar através de FIV. A qualidade dos ovócitos pode entrar em declínio muito antes da menopausa, o que significa que, mesmo que engravide durante a perimenopausa, terá maior risco de ter um aborto espontâneo e de o ovócito não se dividir corretamente, fazendo com que cada célula do embrião tenha um número errado de cromossomas.

A possibilidade de ter menopausa precoce ou prematura é um fator a ter em conta nos seus futuros planos de ter filhos. Independentemente das opções que venha a tomar, desejamos que o caminho que a conduz à maternidade seja agradável e cheio de sucessos.

O ganho de peso conduz à perda de fertilidade?

É do conhecimento geral que ter peso a mais pode afetar a saúde em muitos aspetos, mas os estudos indicam que o excesso de peso pode também ter um impacto significativo na fertilidade.

É do conhecimento geral que ter peso a mais pode afetar a saúde em muitos aspetos, mas os estudos indicam que o excesso de peso pode também ter um impacto significativo na fertilidade. Existem pelo menos 3 formas através das quais o peso pode afetar a probabilidade de engravidar:

  • Interferindo com o ciclo menstrual
  • Alterando a qualidade dos óvulos
  • Aumentado o risco de ter um aborto espontâneo

Que peso é considerado excessivo?

No que diz respeito à fertilidade, o peso é medido de acordo com o IMC, o índice de massa corporal. De uma forma geral:

  • Um IMC inferior a 18,5 é indicativo de baixo peso
  • Um IMC entre 18,5 e 24,9 é saudável
  • Um IMC entre 25 e 29,9 é indicativo de excesso de peso
  • Um IMC superior a 30 é considerado obesidade

Dito isto, o peso considerado saudável varia conforme a pessoa. É possível que uma mulher com um IMC saudável tenha problemas de fertilidade relacionados com o peso e que uma mulher com excesso de peso consiga engravidar e dar à luz ser qualquer problema.

O excesso de peso pode interferir com o ciclo menstrual

O principal fator através do qual o excesso de peso afeta a fertilidade consiste na possibilidade de interferência com o seu ciclo menstrual.

O seu ciclo menstrual é regulado por um equilíbrio delicado nas hormonas produzidas pela hipófise e pelo hipotálamo, as glândulas que estimulam os ovários. A hormona mais importante é a hormona libertadora de gonadotrofinas, ou GnRH. Esta estimula a produção da hormona folículo-estimulante (FSH), a qual inicia o desenvolvimento de ovócitos nos ovários e aumenta os níveis de estrogénio; e da hormona luteinizante (LH), que desempenha um papel na maturação dos ovócitos e na sua libertação atempada.

Normalmente, o hipotálamo liberta GnRH a cada uma a duas horas, a um ritmo constante, mas em casos de excesso de peso, o acréscimo de tecido adiposo produz a sua própria hormona, designada leptina, a qual interrompe a produção de GnRH e perturba todo o ciclo menstrual. Quanto maior a quantidade de gordura em excesso, especialmente na zona do abdómen, maior a quantidade de leptina produzida pelo corpo.

A obesidade provoca ainda uma redução na produção da globulina de ligação das hormonas sexuais (SHBG) e da hormona de crescimento (GH), as quais também estão envolvidas na estimulação dos seus ovários, para que estes produzam níveis adequados de androgénio e estrogénio. Um estudo indica, que as mulheres obesas têm muito menor probabilidade de engravidar naturalmente no período de um ano do que as mulheres que se encontram num intervalo de peso normal.

A obesidade pode até conduzir a uma situação de anovulação, em que os seus ovários simplesmente param de produzir ovócitos por completo, devido à perturbação do equilíbrio hormonal. As mulheres com IMC superior a 27 têm uma probabilidade três vezes superior de ter parado de ovular do que as mulheres com um IMC normal.

Alteração da qualidade dos ovócitos

A ciência ainda se encontra a investigar a existência de uma ligação entre a obesidade e um declínio na qualidade dos ovócitos, mas é provável que, mesmo que se encontre a ovular, a obesidade reduza a qualidade dos ovócitos. Uma vez que o ovócito se divide continuamente, é mais provável que ocorram anomalias na divisão, originando ovócitos com um número errado de cromossomas, e/ou que os ovócitos não possam ser fecundados corretamente.

Num outro estudo, verificou-se que por cada ponto adicional no IMC acima dos 29, a probabilidade de engravidar no espaço de 1 ano diminui em cerca de 5%.

Aborto espontâneo e nascimento

Os investigadores descobriram ainda que, após engravidar, a obesidade pode afetar a probabilidade de a mulher concluir a gravidez e dar à luz um bebé saudável. Segundo o sistema nacional de saúde britânico (NHS), as mulheres obesas apresentam taxas de aborto espontâneo mais elevadas, maior risco de desenvolver diabetes gestacional, pressão arterial elevada e pré-eclâmpsia, estando mais sujeitas a sofrer complicações no momento do parto. Quanto maior o IMC, maior o risco.

Num estudo, concluiu-se que até uns “quilinhos” a mais podem ter um efeito surpreendente na ocorrência de aborto espontâneo durante a FIV. Trinta e oito por cento das mulheres com um IMC igual ou superior a 25 tiveram um aborto espontâneo no primeiro trimestre, em comparação com 20% das mulheres com um IMC saudável.

Obesidade e infertilidade masculina

Um outro aspeto a ter em conta consiste no facto de que o ganho de peso também pode provocar infertilidade nos homens. Alguns estudos indicam que os homens com excesso de peso, com um IMC superior a 25, apresentam uma redução de 22% na contagem de espermatozoides e de 24% na concentração de espermatozoides. Além disso, os níveis de testosterona diminuem com o aumento do IMC, o que reduz o desejo sexual (libido).

O peso não é o único fator que afeta a fertilidade, sendo que a presença de miomas pode reduzir a capacidade de engravidar. No entanto, se tiver dificuldades em engravidar e tiver excluído outros fatores que possam estar a impedir uma gravidez, poderá considerar a necessidade de perder peso.

Desejamos que o caminho que a conduz à gravidez e à maternidade seja agradável e que a viagem decorra sem percalços.

Quão difícil é, exatamente, engravidar depois dos 35?

Se está a tentar ter filhos, ou se quer ter filhos, um dia, mas não tem possibilidade de o fazer no imediato, já lhe devem ter dito que deve começar antes dos 35, já que, mais tarde, terá sérias dificuldades.

Se está a tentar ter filhos, ou se quer ter filhos, um dia, mas não tem possibilidade de o fazer no imediato, já lhe devem ter dito que deve começar antes dos 35, já que, mais tarde, terá sérias dificuldades.

Estas afirmações provocam stresse e a ansiedade, mas será que têm algum fundo de razão? Quão difícil é, exatamente, engravidar depois dos 35? Vale a pena ter esperança?

Como em muitos casos, a resposta é mais complicada do que nos é dado a entender.

O “35” não é nenhum número mágico

É impossível traçar uma linha temporal e afirmar que, depois dessa data em concreto, a sua fertilidade irá cair a pique. Na realidade, o que acontece é que que a fertilidade começa a diminuir gradualmente à medida que se aproxima dos 30 anos. A velocidade de declínio aumenta ao chegar aos 32, voltando depois a aumentar perto dos 37 anos.

Aos 40, a fertilidade já diminuiu significativamente. Ainda é possível engravidar, mas pode demorar muito mais do que esperava.

Em seguida, apresentam-se alguns números que explicam melhor a situação. Num grande estudo estudaram-se as taxas de gravidez de mulheres que tiveram relações sexuais no seu dia mais fértil. Verificou-se que:

  • As mulheres entre os 19 e os 26 anos tinham uma probabilidade superior a 50% de engravidar
  • As mulheres entre os 27 e os 34 anos apresentavam uma taxa ligeiramente inferior a 40%
  • As mulheres entre os 35 e os 39 anos tinham uma probabilidade inferior a 30% de engravidar, quase metade da taxa apresentada pelas mulheres com idade entre os 19 e os 26.

Por outras palavras, tem 25% de hipóteses de engravidar, em cada mês, antes dos 30 anos, mas este número diminui para 5% ao chegar aos 40.

Isto não quer dizer que seja impossível, apenas que é menos provável.

Outra forma de calcular a fertilidade consiste em verificar quanto tempo é preciso até uma mulher engravidar e ter um filho. Através deste método,  calculou-se que:

  • 75% das mulheres de 30 anos estão grávidas ao fim de 1 ano; 91% engravidam no espaço de 4 anos.
  • 66% das mulheres de 35 anos estão grávidas ao fim de 1 ano; 84% engravidam no espaço de 4 anos.
  • Apenas 44% das mulheres de 40 anos estão grávidas ao fim de 1 ano; somente 64% engravidam no espaço de 4 anos.

Dados estes números, a Sociedade Americana de Medicina Reprodutiva (ASRM, American Society of Reproductive Medicine) recomenda que inicie uma avaliação de infertilidade se não tiver engravidado ao fim de 12 meses de sexo não protegido, se tiver menos de 35 anos, ou ao fim de 6 meses, se tiver mais de 35 anos.

Não é só a questão da fertilidade

Quando se fala sobre a dificuldade de engravidar após os 35 anos, é importante recordar que não nos referimos apenas às taxas de gravidez.

A idade aumenta a probabilidade de ocorrência de aborto espontâneo ou morte fetal.

O risco de o bebé ter malformações congénitas graves, que a podem levar a considerar a interrupção da gravidez, também aumenta após os 35 anos. De acordo com um estudo, 10% das gravidezes em mulheres com 20 e poucos anos resultam num aborto espontâneo, mas esse valor aumenta para 18% em mulheres com mais de 35 anos e para 34% em mulheres com mais de 40.

Isto significa que terá um risco de 40% de perder o bebé aos 40 anos, risco esse que é de apenas 15% quando está na casa dos 20. Esta questão deve-se principalmente ao facto de que a qualidade e a quantidade dos seus ovócitos diminuem com a idade. A redução na qualidade dos ovócitos conduz a um aumento do risco de um ovócito fecundado não se dividir corretamente, originando anomalias cromossómicas.

Woman thinking fertility after 35

Mulher a considerar a questão da fertilidade após os 35 anos

 

Porque é que se torna tão difícil engravidar depois dos 35?

O motivo principal para o declínio na fertilidade que ocorre perto desta idade consiste no facto de que já lhe restam poucos ovócitos. As mulheres têm cerca de 1 milhão de ovócitos à nascença, contudo, ao atingirem a puberdade, já só restam cerca de 300 a 400 mil. Este número diminui gradualmente e, aos 35, sobram apenas algumas dezenas de ovócitos aptos para serem fecundados. Nesta idade, pode começar a ter ciclos menstruais em que não há libertação de um ovócito.

Com a idade, aumenta a probabilidade de ter tido algum tipo de cirurgia ou infeção que possa ter afetado a sua fertilidade, deixando cicatrizes no colo do útero e nas trompas de Falópio. Também existe uma probabilidade superior de ter desenvolvido problemas como endometriose ou miomas uterinos, que provocam grandes dificuldades em engravidar.

À medida que envelhece, também se dá um declínio natural no muco cervical, o qual tem um papel fundamental na fecundação, ajudando os espermatozoides a atingir o útero e as trompas de Falópio, onde se encontra o ovócito.

Cada ano que acresce aos 35 pode afetar as suas hipóteses de ter uma gravidez bem-sucedida, pelo que é importante procurar assistência médica assim que se aperceba de que está a ter dificuldade em engravidar. Quer tente ter filhos através de FIV, doação de ovócitos/espermatozoides ou por gravidez natural, desejamos que a sua experiência seja o mais agradável possível.

A idade do parceiro também importa

Não é só a idade da mulher que afeta a sua probabilidade de engravidar naturalmente. A idade do parceiro também desempenha um papel.

A fertilidade masculina não diminui tão rapidamente como a feminina; perto dos 40, contudo, já apresenta um declínio significativo. Num estudo verificou-se que as mulheres entre os 35 e os 39 anos que tinham um parceiro no mesmo intervalo de idades apresentavam uma taxa de gravidez de 29%, mas o facto de o parceiro ser cinco ou mais anos mais velho reduziu a taxa de gravidez para apenas 18%.

Existem múltiplos fatores que contribuem para a fertilidade

Muita gente dirá que deve tentar engravidar antes da idade “mágica”. Como vimos, não existe uma idade preestabelecida que determine a diminuição da sua fertilidade (ou a fertilidade do seu parceiro). Dito isto, as suas hipóteses de engravidar e ter um bebé saudável diminuem com a sua idade e com a idade do seu parceiro, à medida que passa a ter menos ovócitos viáveis disponíveis, aumentando a probabilidade de aborto espontâneo e morte fetal. O ideal é procurar engravidar mais cedo, mas não existe nenhuma receita (ou idade) mágica que possa garantir o sucesso.

Ovócitos jovens ou útero jovem: qual dos fatores é mais importante para o sucesso da FIV?

É do conhecimento geral que as mulheres mais jovens, na sua generalidade, têm mais facilidade em engravidar e em dar à luz bebés saudáveis. Mas perceber porquê é uma questão mais complicada.

É do conhecimento geral que as mulheres mais jovens, na sua generalidade, têm mais facilidade em engravidar e em dar à luz bebés saudáveis. Mas perceber porquê é uma questão mais complicada.

Existem pelo menos dois motivos distintos para a gravidez ser mais complicada em mulheres mais velhas:

  • Os seus ovócitos (que dão origem ao feto) são mais velhos
  • O seu corpo, incluindo o útero, é mais velho

Vejamos o impacto de cada fator numa gravidez. Depois, responderemos à questão: qual dos fatores é mais importante – o útero ou o ovócito?

Porque é que a idade dos ovócitos é importante?

Uma bebé nasce com 1 a 2 milhões de ovócitos. O fornecimento de ovócitos diminui de forma contínua, sendo que uma adolescente apresenta, em média, 400 mil ovócitos e uma mulher de 37 anos tem, em média 25 mil.

A diminuição não se dá apenas em termos de quantidade dos ovócitos, mas também a nível da sua qualidade, por diversos motivos. Em primeiro lugar, o corpo da mulher tem tendência a dar prioridade à utilização dos ovócitos de melhor qualidade, os quais são utilizados entre a adolescência e os 30 e poucos anos. Após esta idade, a probabilidade de os ovócitos remanescentes serem de boa qualidade é mais baixa.

Além disso, quando o ovócito amadurece nos ovários, na fase anterior à ovulação, necessita de se dividir várias vezes. Os ovócitos mais antigos têm maior probabilidade de sofrer anomalias na divisão, culminando na formação de uma célula com um número errado de cromossomas. Consequentemente, forma-se um ovócito que não será fecundado ou, caso seja fecundado, não se desenvolverá de forma correta e não permitirá uma gravidez bem-sucedida ou o nascimento de um bebé saudável.

Porque é que a idade do útero (e do resto do corpo) é importante?

Aos 40 anos, todas as mulheres sentem que o seu corpo já não é o que era aos 20.

As mulheres que engravidam após os 35 anos têm maior probabilidade de ter complicações na gravidez, como:

Todas estas complicações podem diminuir as hipóteses de ter uma gravidez e um parto bem-sucedidos.

Qual dos fatores é mais importante – o útero ou o ovócito?

Antes de responder a esta questão, talvez devêssemos colocar outra: Qual é a importância de saber qual dos fatores é mais importante? Se tem mais de 35 anos, tanto os seus ovócitos como o resto do corpo têm mais de 35 anos. Que diferença faz?

Apesar de não ser possível mudar a idade do seu corpo (a menos que tenha inventado uma máquina do tempo), o recurso à FIV pode permitir que altere a idade dos seus ovócitos. Isto pode ser feito com recurso a ovócitos doados por uma mulher mais jovem ou aos seus próprios ovócitos, congelados quando era mais nova.

Assim, faz sentido saber qual dos dois fatores tem maior importância. Vejamos.

No relatório mais recentet, da Autoridade de Fertilização e Embriologia Humana do Reino Unido (HFEA, Human Fertilisation and Embryology Authority), em que se utilizaram dados de 2017, os números são reveladores.

IVF birth rates PET by age - 2017

Os números referem-se à taxa de parto de nado-vivo por embrião transferido (PET). Nas mulheres que usam os seus próprios ovócitos, a taxa de nascimentos diminui progressivamente, passando de 27 a 30% (consoante se trate de ovócitos frescos ou congelados) em mulheres com menos de 35 anos, para 2 a 4% em mulheres com mais de 44 anos.

No entanto, nas mulheres que recorrem à doação de ovócitos, a redução é muito menos significativa (sendo que nem sempre se observa uma redução). A taxa de parto por embrião transferido é de 28 a 33% em mulheres com menos de 35 anos, o que não difere muito dos números observados nessa faixa etária quando são utilizados os ovócitos da própria. Mas a taxa de parto em mulheres com mais de 44 anos é de 22 a 26%, o que constitui uma diferença significativa face à taxa de 2 a 4% observada em mulheres que utilizam os seus próprios ovócitos!

Porque é que isto acontece?

Os ovócitos doados provêm quase exclusivamente de mulheres com menos de 35 anos. Ao utilizar estes ovócitos mais jovens, mesmo as mulheres com mais de 40 anos têm uma probabilidade significativa de vir a ter uma gravidez e um parto bem-sucedidos. É verdade que esta probabilidade não é tão elevada como a que se observa em mulheres até aos 35, o que demonstra que existe, de facto, uma influência do envelhecimento do corpo e do útero. Ainda assim, é bastante superior à das mulheres que utilizam os seus próprios óvulos após os 40 anos, o que confirma que a idade dos ovócitos tem muito maior influência.

Outro aspeto que sustenta o facto de a idade dos ovócitos ter mais influência do que a idade do corpo consiste na diferença observada nas taxas de sucesso entre mulheres que utilizam os seus próprios ovócitos congelados e aquelas que utilizam os seus ovócitos frescos. Em mulheres com menos de 35 anos, a taxa de sucesso da FIV é semelhante à taxa observada quando são utilizados os seus próprios ovócitos frescos. Contudo, todas as faixas etárias seguintes apresentam uma taxa de sucesso superior ao utilizar ovócitos congelados. Os ovócitos congelados numa idade mais jovem aumentam a probabilidade de sucesso.

O mesmo aumento verifica-se quando a FIV é realizada com recurso a embriões congelados numa idade mais jovem.

Será que é esta a fonte da juventude?

Não, não se conhece nenhuma receita milagrosa que a faça voltar aos 21 anos, se é isso que pretende. O seu corpo está preso na sua idade atual. Ponto final.

Mas os números da HFEA indicam o caminho para uma possível fonte de fertilidade. A utilização de ovócitos mais jovens, quer sejam ovócitos seus, congelados, ou provenientes de uma dadora, podem aumentar a maior taxa de sucesso da FIV. Além disso, quanto mais cedo congelar os seus ovócitos (principalmente se o fizer antes dos 35 anos), maior será a probabilidade de vir a ter uma gravidez e um parto bem-sucedidos com recurso a FIV.

Desejamos-lhe muito sucesso nas escolhas que fizer quanto à sua fertilidade e na construção da família que deseja, quando o desejar.