Menopausa precoce e planeamento da fertilidade

Se está a tentar ter filhos, é provável que pondere o momento certo para engravidar tendo por base uma vaga ideia da altura em que chegará a menopausa. A menopausa assinala o “fim da linha” para mulheres que querem engravidar.

Se está a tentar ter filhos, é provável que pondere o momento certo para engravidar, tendo por base uma vaga ideia da altura em que chegará a menopausa. A menopausa assinala o “fim da linha” para mulheres que querem engravidar. Na maioria das mulheres, a menopausa ocorre entre os 45 e os 55 anos (em média, aos 51); contudo, em algumas mulheres, esta pode surgir muito mais cedo do que o esperado, o que pode constituir um obstáculo às suas preferências no que diz respeito ao planeamento familiar.

O que é a menopausa precoce?

Os médicos fazem uma distinção entre a menopausa precoce, que ocorre entre os 40 e os 45 anos, e a menopausa prematura, também conhecida por falência ovárica prematura ou insuficiência ovárica primária, a qual se dá antes dos quarenta anos.

Os estudos realizados indicam que cerca de 5% das mulheres têm menopausa precoce, sendo que a menopausa prematura ocorre em mais 1% das mulheres..

Qual é a causa da menopausa precoce?

Para muitas mulheres, a menopausa precoce ou prematura é idiopática, ou seja, não tem uma causa médica conhecida. Dito isto, existem vários fatores que podem conduzir à menopausa precoce ou à insuficiência ovárica primária:

Os tratamentos de quimioterapia ou radioterapia conduzem frequentemente à menopausa, uma vez que o tratamento pode provocar lesões nos ovários e impedi-los de ovular. Nestas situações, é possível que o seu organismo recupere e comece novamente a ovular, apesar de ainda poder vir a ter dificuldades em engravidar devido a outros efeitos do tratamento nos seus órgãos reprodutores.

Doenças genéticas e cromossómicas, como a síndrome de Turner, podem afetar os ovários logo após o nascimento, conduzindo à menopausa precoce ou prematura.

Doenças autoimunes como diabetes, artrite reumatoide e doenças da tiroide, são sinais de uma disfunção no sistema imunitário, que ataca o organismo em vez da doença. Nestes casos, o sistema imunitário pode também atacar os ovários e impedir que funcionem corretamente.

Algumas infeções, como a papeira, a malária e a tuberculose, podem danificar os ovários, mas esta situação é muito rara. Sem o devido controlo com medicação, o VIH e a SIDA podem também conduzir à menopausa.

A cirurgia para remoção dos ovários provoca forçosamente a menopausa.

O tabaco pode acelerar a degeneração dos folículos (ovócitos prematuros). As mulheres nascem com uma média de um milhão de folículos, e este número vai diminuindo lentamente ao longo do tempo. Os folículos não são gastos apenas na ovulação e na menstruação; sofrem também um processo denominado atresia, em que simplesmente degeneram e morrem. O tabagismo acelera este processo.

Num estudo conduzido na Dinamarca, verificou-se que existirá uma ligação entre a idade a que a sua mãe entrou na menopausa e a sua reserva ovárica, isto é, o número de ovócitos que ainda tem no seu organismo. Se tiver antecedentes familiares de menopausa precoce, é provável que tenha uma reserva ovárica inferior à média, que tenha dificuldades em engravidar numa idade inferior à média, e que a menopausa se inicie mais cedo do que a média.

O que é a perimenopausa?

É raro a menopausa ocorrer totalmente de um dia para o outro (de facto, tal só aconteceria se os seus ovários fossem retirados cirurgicamente). As mulheres passam por uma fase designada perimenopausa, que se refere a um período em que ainda ovulam, mas com uma frequência muito mais baixa. Nesta fase, os ciclos menstruais tornam-se irregulares e mais espaçados.

A perimenopausa pode durar até seis anos ou mais, durante os quais ainda é possível engravidar, mas é muito mais difícil. Num estudo, verificou-se que entre 2,2% a 14,2% das mulheres envolvidas engravidaram naturalmente e deram à luz um bebé saudável.

Se começar a ter períodos visivelmente mais longos ou mais curtos do que é habitual, ou se o período parar totalmente durante três ciclos, poderá estar a entrar na perimenopausa. Poderá também ter alguns dos sintomas da menopausa, como afrontamentos, secura vaginal, insónia, dor de cabeça, ansiedade e dores nas articulações.

De que forma é que a menopausa precoce afeta o seu planeamento da fertilidade?

Após a menopausa, não poderá voltar a engravidar naturalmente, mas ainda poderá ter filhos através de FIV com doação de ovócitos ou com os seus próprios ovócitos congelados numa altura anterior da sua vida.

Poderá já ter ouvido falar sobre a terapêutica hormonal de substituição, ou THS, que é frequentemente recomendada em mulheres que apresentam menopausa precoce. No entanto, a THS é indicada apenas em vários outros problemas de saúde associados à menopausa, como osteoporose e risco aumentado de cancro, além de ser prescrita para controlar os sintomas da menopausa. Não permite melhorar a fertilidade.

Se:

  • Tiver antecedentes familiares de menopausa precoce;
  • Tiver uma doença autoimune, infeção ou doença genética que possa conduzir à menopausa precoce;
  • Tiver sido aconselhada a iniciar um tratamento ou a fazer uma cirurgia que possa ter efeitos na sua fertilidade;

é aconselhável considerar a hipótese de congelar os seus ovócitos o mais rapidamente possível.

A congelação de ovócitos na casa dos 20 ou dos 30 anos permite que a qualidade dos ovócitos seja superior, aumentando as suas hipóteses de sucesso quando, mais tarde, os utilizar para engravidar através de FIV. A qualidade dos ovócitos pode entrar em declínio muito antes da menopausa, o que significa que, mesmo que engravide durante a perimenopausa, terá maior risco de ter um aborto espontâneo e de o ovócito não se dividir corretamente, fazendo com que cada célula do embrião tenha um número errado de cromossomas.

A possibilidade de ter menopausa precoce ou prematura é um fator a ter em conta nos seus futuros planos de ter filhos. Independentemente das opções que venha a tomar, desejamos que o caminho que a conduz à maternidade seja agradável e cheio de sucessos.

Ovócitos jovens ou útero jovem: qual dos fatores é mais importante para o sucesso da FIV?

É do conhecimento geral que as mulheres mais jovens, na sua generalidade, têm mais facilidade em engravidar e em dar à luz bebés saudáveis. Mas perceber porquê é uma questão mais complicada.

É do conhecimento geral que as mulheres mais jovens, na sua generalidade, têm mais facilidade em engravidar e em dar à luz bebés saudáveis. Mas perceber porquê é uma questão mais complicada.

Existem pelo menos dois motivos distintos para a gravidez ser mais complicada em mulheres mais velhas:

  • Os seus ovócitos (que dão origem ao feto) são mais velhos
  • O seu corpo, incluindo o útero, é mais velho

Vejamos o impacto de cada fator numa gravidez. Depois, responderemos à questão: qual dos fatores é mais importante – o útero ou o ovócito?

Porque é que a idade dos ovócitos é importante?

Uma bebé nasce com 1 a 2 milhões de ovócitos. O fornecimento de ovócitos diminui de forma contínua, sendo que uma adolescente apresenta, em média, 400 mil ovócitos e uma mulher de 37 anos tem, em média 25 mil.

A diminuição não se dá apenas em termos de quantidade dos ovócitos, mas também a nível da sua qualidade, por diversos motivos. Em primeiro lugar, o corpo da mulher tem tendência a dar prioridade à utilização dos ovócitos de melhor qualidade, os quais são utilizados entre a adolescência e os 30 e poucos anos. Após esta idade, a probabilidade de os ovócitos remanescentes serem de boa qualidade é mais baixa.

Além disso, quando o ovócito amadurece nos ovários, na fase anterior à ovulação, necessita de se dividir várias vezes. Os ovócitos mais antigos têm maior probabilidade de sofrer anomalias na divisão, culminando na formação de uma célula com um número errado de cromossomas. Consequentemente, forma-se um ovócito que não será fecundado ou, caso seja fecundado, não se desenvolverá de forma correta e não permitirá uma gravidez bem-sucedida ou o nascimento de um bebé saudável.

Porque é que a idade do útero (e do resto do corpo) é importante?

Aos 40 anos, todas as mulheres sentem que o seu corpo já não é o que era aos 20.

As mulheres que engravidam após os 35 anos têm maior probabilidade de ter complicações na gravidez, como:

Todas estas complicações podem diminuir as hipóteses de ter uma gravidez e um parto bem-sucedidos.

Qual dos fatores é mais importante – o útero ou o ovócito?

Antes de responder a esta questão, talvez devêssemos colocar outra: Qual é a importância de saber qual dos fatores é mais importante? Se tem mais de 35 anos, tanto os seus ovócitos como o resto do corpo têm mais de 35 anos. Que diferença faz?

Apesar de não ser possível mudar a idade do seu corpo (a menos que tenha inventado uma máquina do tempo), o recurso à FIV pode permitir que altere a idade dos seus ovócitos. Isto pode ser feito com recurso a ovócitos doados por uma mulher mais jovem ou aos seus próprios ovócitos, congelados quando era mais nova.

Assim, faz sentido saber qual dos dois fatores tem maior importância. Vejamos.

No relatório mais recentet, da Autoridade de Fertilização e Embriologia Humana do Reino Unido (HFEA, Human Fertilisation and Embryology Authority), em que se utilizaram dados de 2017, os números são reveladores.

IVF birth rates PET by age - 2017

Os números referem-se à taxa de parto de nado-vivo por embrião transferido (PET). Nas mulheres que usam os seus próprios ovócitos, a taxa de nascimentos diminui progressivamente, passando de 27 a 30% (consoante se trate de ovócitos frescos ou congelados) em mulheres com menos de 35 anos, para 2 a 4% em mulheres com mais de 44 anos.

No entanto, nas mulheres que recorrem à doação de ovócitos, a redução é muito menos significativa (sendo que nem sempre se observa uma redução). A taxa de parto por embrião transferido é de 28 a 33% em mulheres com menos de 35 anos, o que não difere muito dos números observados nessa faixa etária quando são utilizados os ovócitos da própria. Mas a taxa de parto em mulheres com mais de 44 anos é de 22 a 26%, o que constitui uma diferença significativa face à taxa de 2 a 4% observada em mulheres que utilizam os seus próprios ovócitos!

Porque é que isto acontece?

Os ovócitos doados provêm quase exclusivamente de mulheres com menos de 35 anos. Ao utilizar estes ovócitos mais jovens, mesmo as mulheres com mais de 40 anos têm uma probabilidade significativa de vir a ter uma gravidez e um parto bem-sucedidos. É verdade que esta probabilidade não é tão elevada como a que se observa em mulheres até aos 35, o que demonstra que existe, de facto, uma influência do envelhecimento do corpo e do útero. Ainda assim, é bastante superior à das mulheres que utilizam os seus próprios óvulos após os 40 anos, o que confirma que a idade dos ovócitos tem muito maior influência.

Outro aspeto que sustenta o facto de a idade dos ovócitos ter mais influência do que a idade do corpo consiste na diferença observada nas taxas de sucesso entre mulheres que utilizam os seus próprios ovócitos congelados e aquelas que utilizam os seus ovócitos frescos. Em mulheres com menos de 35 anos, a taxa de sucesso da FIV é semelhante à taxa observada quando são utilizados os seus próprios ovócitos frescos. Contudo, todas as faixas etárias seguintes apresentam uma taxa de sucesso superior ao utilizar ovócitos congelados. Os ovócitos congelados numa idade mais jovem aumentam a probabilidade de sucesso.

O mesmo aumento verifica-se quando a FIV é realizada com recurso a embriões congelados numa idade mais jovem.

Será que é esta a fonte da juventude?

Não, não se conhece nenhuma receita milagrosa que a faça voltar aos 21 anos, se é isso que pretende. O seu corpo está preso na sua idade atual. Ponto final.

Mas os números da HFEA indicam o caminho para uma possível fonte de fertilidade. A utilização de ovócitos mais jovens, quer sejam ovócitos seus, congelados, ou provenientes de uma dadora, podem aumentar a maior taxa de sucesso da FIV. Além disso, quanto mais cedo congelar os seus ovócitos (principalmente se o fizer antes dos 35 anos), maior será a probabilidade de vir a ter uma gravidez e um parto bem-sucedidos com recurso a FIV.

Desejamos-lhe muito sucesso nas escolhas que fizer quanto à sua fertilidade e na construção da família que deseja, quando o desejar.

Qual a melhor opção de preservação da fertilidade: congelar ovócitos ou embriões?

Apesar de não haver ainda qualquer forma de mandar parar o relógio biológico, a tecnologia moderna deu-nos uma espécie de botão para o adiar.

Apesar de não haver ainda qualquer forma de mandar parar o relógio biológico, a tecnologia moderna deu-nos uma espécie de botão para o adiar.

Congelar ovócitos e embriões, uma técnica também conhecida por criopreservação, permite preservar estes fatores decisivos da fertilidade na idade biológica em que foram congelados. Uma vez que o principal fator que influencia a possibilidade de ter uma gravidez e um parto viável é a idade do ovócito, e não a idade da mulher grávida, esta é uma excelente notícia para mulheres cujos relógios biológicos estejam a dar alerta.

Se estiver a considerar esta opção, a próxima grande questão é: deve congelar ovócitos ou embriões?

Esta não é uma decisão fácil, havendo muitas questões a ponderar e fatores a considerar antes de começar. Em seguida, apresenta-se uma longa lista de fatores que a poderão ajudar a decidir qual será o caminho certo para si.

Fatores físicos

Um pouco de contexto

As primeiras fases da congelação de ovócitos e de embriões são idênticas. Administram-se medicamentos que aumentam a ovulação e permitem preparar mais ovócitos do que o habitual. Os ovócitos são então colhidos a partir dos ovários (um procedimento intravaginal feito com anestesia).

Este é o último passo da congelação de ovócitos. Por outro lado, se quiser congelar embriões, é agora altura de transformar esses ovócitos em embriões. Para tal, são precisos espermatozoides, do parceiro ou de um dador, para fecundar o ovócito. Caso o ovócito seja fecundado, será congelado assim que se tenha multiplicado e formado cerca de 50 a 100 células.

Isto traz-nos ao primeiro grande fator a considerar ao optar por congelar ovócitos ou embriões:

Necessidade de espermatozoides

Certo, pode ser óbvio, mas vamos dizê-lo à mesma: para gerar um embrião, precisa de espermatoizoides. Caso tenha um parceiro com quem esteja 100% segura de que quer ter filhos no futuro ou se estiver a contar recorrer à doação de espermatozoides, não existe qualquer obstáculo à criação e congelação de embriões.

Se estiver solteira e ainda tenha esperança de encontrar o parceiro certo com quem ter filhos, a congelação de ovócitos pode fazer mais sentido. Neste caso, basta apenas um interveniente: você.

Taxas de sucesso da congelação e descongelação

Os ovócitos são mais frágeis do que os embriões, uma vez que consistem numa única célula (e não 100), a qual é maioritariamente constituída por água. No entanto, enquanto os métodos mais antigos de congelação de ovócitos originavam problemas, com bastante frequência, durante a congelação ou descongelação dos ovócitos, a técnica de vitrificação (congelação ultrarrápida) que se tem vindo a generalizar nos últimos anos conduziu a um aumento das taxas de sucesso na utilização de ovócitos congelados até à taxa de sucesso na utilização de ovócitos frescos..

Taxa de fecundação conhecida

Ao congelar embriões, sabe exatamente quantos embriões fecundados (ou seja, quantas possibilidades de vir a ter uma gravidez viável) estará a preservar. Por outro lado, ao congelar ovócitos, não sabe quantos deles serão fecundados depois da descongelação.

Assim, a criação de cada embrião para FIV requer normalmente vários ovócitos. Este gráfico exemplificativo mostra 2 embriões viáveis que se desenvolveram a partir de um grupo de 12 ovócitos colhidos (sendo que os resultados individuais podem ser variáveis). Assumindo que o seu caso corresponde ao caso ilustrado no gráfico, e desde que tenha congelado os 12 ovócitos, isto seria basicamente equivalente (em termos probabilísticos) a congelar 2 embriões.

Taxa de parto de recém-nascido vivo

Como sabemos, o facto de termos um ovócito viável (ou mesmo um embrião fecundado) não garante, infelizmente, que se venha a ter uma gravidez e um parto bem-sucedidos. Mas a probabilidade de dar à luz um recém-nascido vivo é superior utilizando um embrião congelado ou um ovócito congelado?

A Autoridade de Fertilização e Embriologia Humana do Reino Unido (HFEA, Human Fertilisation and Embryology Authority) apresenta as seguintes taxas de parto com embriões congelados com recurso a ovócitos da própria mulher e a espermatozoides do parceiro, com base na idade da mulher no momento da transferência:

Menos de 35 – 27%
35 a 37 – 26%
38 a 39 – 21%
40 a 42 – 15%
43 a 44 – 8%
45 e superior – 4%

Dado que os métodos fiáveis de congelação de ovócitos são mais recentes, existem menos dados sobre a congelação de ovócitos (especialmente em mulheres que usam os seus próprios ovócitos congelados) do que sobre a congelação de embriões.

Os dados que efetivamente temos, segundo a HFEA, indicam uma taxa de parto com recurso a ovócitos congelados de dadoras de cerca de 30% em 2016. Este valor é semelhante (e possivelmente até ligeiramente superior) às taxas supracitadas no caso de embriões congelados, mas não divide os dados de acordo com a idade da mulher no momento da transferência.

A taxa média de parto em mulheres que utilizam os seus próprios ovócitos congelados foi de 18%, semelhante à taxa de parto a partir de embriões congelados em mulheres com idade próxima ou superior a 40 anos no momento da transferência.

A HFEA salienta que um dos motivos para os ovócitos doados terem culminado em mais partos bem-sucedidos foi o facto de serem geralmente congelados mais cedo; e sabe-se que a idade do ovócito é um dos fatores mais críticos. Além disso, para poderem doar ovócitos, as mulheres têm de cumprir determinados critérios em termos de saúde, o que não acontece em mulheres que congelam os seus próprios ovócitos, pelo que a reserva de ovócitos doados é, na sua globalidade, “mais saudável”.

Assim, se utilizar os seus próprios ovócitos, jovens e saudáveis, é provável que obtenha resultados superiores à média, próximos da taxa observada com ovócitos congelados de dadoras e embriões congelados.

Pode ser-lhe útil recorrer à ferramenta de decisão do Brigham and Women’s Hospital, Brigham Women’s Hospital Egg Freezing Counseling Tool. Trata-se de uma calculadora desenvolvida com base na investigação que permite prever a probabilidade de ocorrer um parto de um recém-nascido vivo em mulheres que optam por congelar ovócitos para utilização futura. (Nota: de acordo com o termo de responsabilidade da própria ferramenta, apesar de esta ter sido desenvolvida com base na investigação, a calculadora não tem validação externa, pelo que deve ser utilizada com precaução.)

Fatores éticos e legais

Dissolução de uma relação

Ao congelar embriões fecundados com um parceiro específico, não poderá voltar atrás. Mesmo que esteja loucamente apaixonada pelo seu parceiro atual e convencida de que um dia terão filhos, as relações nem sempre terminam da forma que imaginávamos.

A maioria dos formulários de consentimento para FIV e congelação de embriões contêm cláusulas legais que estipulam o modo como será feita a divisão da posse dos embriões caso a relação termine. Dito isto, se a relação tiver um fim atribulado, poderá ter problemas legais… se ainda quiser, sequer, utilizar esses embriões.

A congelação de ovócitos permite evitar todos estes problemas. Os seus ovócitos são totalmente seus e podem ser utilizados se, quando e como quiser.

Tratamento de ovócitos/embriões não utilizados

Na prática, muitas mulheres acabam por não utilizar os ovócitos e embriões que congelaram, porque engravidaram naturalmente, decidiram não ter filhos ou conseguiram ter o número de filhos que queriam antes de utilizar todos os ovócitos/embriões. O que acontece ao seu material genético se decidir que não precisa mais dele?

Muitas religiões consideram que um embrião é uma vida humana, impondo restrições ao modo como deve ser tratado, mesmo que já não seja necessário. Religião à parte, não é anormal que a ideia de descartar um embrião sem mais nem menos provoque algum incómodo. Pelo contrário, os ovócitos não fecundados são muito mais simples de descartar, tanto a nível emocional como ético.

Peaceful couple after fertility preservation

Casal tranquilo após preservação da fertilidade

Fatores emocionais

Briallen Hopper levanta uma questão inesperada, ao dar-se conta de que a congelação de embriões (com espermatozoides de um dador) diminuiu as suas hipóteses de encontrar o amor.

Com pouco mais de 40 anos, Briallen quer ter filhos, mas os homens que querem ter filhos começam já a excluí-la da lista de potenciais parceiras. As suas hipóteses de engravidar naturalmente começam a diminuir significativamente, e a probabilidade de que os homens que queiram formar família estejam interessados em ter um filho utilizando um embrião que não contenha o seu material genético é baixa.

Os embriões congelados, obtidos com recurso a espermatozoides de um dador, podem permitir que Briallen seja mãe, mas, paradoxalmente, à custa de encontrar um parceiro.

Ao deixar em aberto a questão de quem será o pai, a congelação de ovócitos não tem o mesmo impacto na forma como pensa no amor ou nos seus potenciais parceiros.

Fatores financeiros

A congelação de ovócitos ou de embriões não sai barata. Se as suas possibilidades económicas forem limitadas, a escolha entre congelar ovócitos e embriões pode depender dos eventuais procedimentos abrangidos pela sua seguradora.

No caso de Briallen Hopper, de quem falávamos, o aspeto financeiro foi crucial para a sua decisão. A congelação de ovócitos era incomportável, mas a sua seguradora cobria os custos da técnica de FIV, colocando o processo de congelação de embriões ao seu alcance.

Tomar uma decisão

Congelar ovócitos? Ou congelar embriões? A escolha não é fácil. Tem de tomar uma decisão que tenha em conta presente e futuro, esperanças e desejos, e a sua realidade.

Esperamos que, com esta abordagem dos vários fatores importantes envolvidos em ambos os processo, tenha ficado mais informada acerca das vantagens e desvantagens de cada um. Desejamos que tome uma decisão esclarecida que lhe traga satisfação.

O que acontece aos seus ovócitos à medida que envelhece?

Já deve ter ouvido a expressão “O relógio não pára” tantas vezes que já enjoa. No entanto, as mulheres que queiram ter filhos não podem simplesmente ignorar a sensação de urgência.

Já deve ter ouvido a expressão “O relógio não pára” tantas vezes que já enjoa. No entanto, as mulheres que queiram ter filhos não podem simplesmente ignorar a sensação de urgência. A necessidade de conjugar a progressão na carreira com a procura do parceiro ideal e de resolver outros problemas da vida antes de terem filhos significa que o “relógio” não é apenas uma metáfora irritante, mas sim uma preocupação legítima. Apesar de a fertilidade não desaparecer simplesmente de um dia para o outro, também não dura para sempre, sendo que o processo de declínio da fertilidade se inicia na casa dos 30 anos. Vamos ver porquê, e saber o que pode (ou não pode) fazer quanto a esta questão.

Quantidade de ovócitos

A quantidade de ovócitos férteis não se mantém constante ao longo da vida. Enquanto uma adolescente tem cerca de 400 mil ovócitos, este número começa rapidamente a diminuir. O Dr. Sherman Silber, autor de um guia sobre como levar a melhor sobre o seu relógio biológico (Beating Your Biological Clock, no seu título original), explica que, após o início da menstruação, uma adolescente perde mil ovócitos imaturos todos os meses, sendo que esta perda é simplesmente um processo biológico e não algo que possa ser alterado por fatores que possamos controlar. Em média, as mulheres têm cerca de 25 mil ovócitos aos 37 anos e apenas mil aos 51. Poder-se-ia pensar, “bem… para engravidar, basta UM ovócito saudável.” Esses números parecem ser ainda bastante altos. Mas uma gravidez bem-sucedida não é apenas uma questão de números.

Qualidade dos ovócitos

Nem todos os ovócitos são criados iguais. Para um ovócito estar pronto a ser fecundado, tem de passar por várias divisões celulares. Durante o processo complexo e fascinante de divisão celular, os cromossomas devem replicar e separar de forma perfeita quando a célula se divide em duas. À medida que os ovócitos envelhecem, vão tendo cada vez mais dificuldades no processo de divisão. Um dos problemas pode ocorrer nos próprios cromossomas. Podem separar-se demasiado cedo no processo de divisão celular, o que confere ao óvócito resultante um número anormal de cromossomas; a isto dá-se o nome de aneuploidia. Outro problema pode ocorrer com as partes da célula que envolvem os cromossomas, permitindo o seu alinhamento correto durante a divisão celular. Em ovócitos envelhecidos, é frequente estas partes (designadas microtúbulos) terem menor controlo sobre o processo, acabando (novamente) por conferir ao ovócito resultante um número anormal de cromossomas.

O que acontece a um ovócito que tenha um número anormal de cromossomas? Pode dar-se o caso de:

  • não ter capacidade de ser fecundado
  • não permitir o crescimento e desenvolvimento saudável do feto (resultando num aborto espontâneo precoce)
  • originar um bebé com síndrome de Down (a qual é provocada por um problema muito específico na divisão cromossómica)

Resumindo: apesar de muitas mulheres mais velhas poderem ter filhos saudáveis naturalmente, quanto mais velhos forem os ovócitos, maior a probabilidade de se darem anomalias no desenvolvimento e menor a probabilidade de originarem um bebé saudável.

Soluções presentes e futuras

O Professor Greg Fitzharris sugere que, futuramente, talvez venha a ser possível colher os cromossomas de um ovócito de uma mulher mais velha e introduzi-los no ovócito de uma mulher mais jovem. Desta forma, o material genético continuaria a ser inteiramente seu (ao contrário do que acontece na “doação de ovócitos”), mas os microtúbulos mais jovens do ovócito doado aumentariam o sucesso da divisão cromossómica. Por mais entusiasmante que pareça, esta hipótese ainda está longe de ser uma realidade. Mas as mulheres que estejam a pensar antecipadamente sobre a sua fertilidade podem preservar eficazmente a juventude dos seus ovócitos, já hoje. As mulheres que congelam alguns dos seus ovócitos aos 30 e poucos anos, por exemplo, poderão utilizá-los aos 40, quando decidirem que está na altura certa para serem mães. Este processo de congelação designa-se criopreservação de ovócitos maduros, e é feito em clínicas de fertilidade em todo o mundo. A congelação de ovócitos permite parar o relógio, retendo a qualidade dos cromossomas e do material celular envolvente. É uma das melhores soluções atualmente disponíveis para preservação da fertilidade. Não existem garantias, mas o facto de conhecer as opções disponíveis e planear o futuro com antecedência são as melhores medidas a adotar para tornar os sonhos de maternidade numa realidade.